AS CÉDULAS DE PROPAGANDA BRASILEIRAS
Goulart Gomes é numismata e escritor. Graduado em Administração
de Empresas (UCSAL), pós-graduado em Comunicação (ESPM-RJ)
e em Literatura Brasileira (UCSAL), graduando em História (UFBA) e
mestrando em Museologia (UFBA).
A PROPAGANDA MILITAR
O serviço militar se tornou obrigatório no Brasil em 1906, durante o governo de Afonso Pena, quando o marechal Hermes da Fonseca era ministro da Guerra, mas só foi efetivamente implementado com a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Apesar desta conscrição para todos os jovens do sexo masculino, com 18 anos de idade, as Forças Armadas sempre utilizaram de recursos de propaganda para atraí-los aos seus quadros. A seguir, veremos três exemplos, de períodos diferentes.
A PROPAGANDA RELIGIOSA
Se a propaganda tem um dos seus marcos fundamentais na religião, nada mais natural que voltar a ser por ela utilizada para a propagação da fé no século XX. Foi o que ocorreu quando da visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Além de inúmeras medalhas foi produzida uma cédula de propaganda, inspirada na cédula de 1.000 cruzeiros (apelidada de “barão”), emitida de 1978 a 1980 (C153 a C-155) e de 1981 a 1986 (C-162 a C-165).
Tal cédula inclusive, me inspirou a recriá-la com bastantes melhorias e correções, com valor alterado de 1.000 cruzeiros, para 10.000 cruzeiros. Caso queira ver como ficou a MINHA VERSÃO, é clicar aqui: 10.000 Cruzeiros - Papa João Paulo II
Na Bahia, circulava a cédula de propaganda da Igreja do Senhor do Bonfim, no valor de 5.000 bênçãos, como um souvenir para turistas. Seu modelo foi inspirado na cédula de 5.000 cruzeiros emitida de 1963 a 1965 (C-057 a C-059 e C-107 a C-110), que originalmente traz a imagem do herói da Inconfidência Mineira, Tiradentes.
A PROPAGANDA POLÍTICO-PARTIDÁRIA
No Brasil, em períodos eleitorais, um dos recursos de propaganda político-partidária mais
utilizada é a panfletagem. Próximo aos locais de votação, as ruas ficam cobertas por milhões de lixo “santinhos” dos políticos, panfletos que são deseducadamente lançados ao chão pelos eleitores, após uma leitura superficial. Como recurso visual, por todas as décadas, a imitação de cédulas circulantes ou circuladas foi amplamente utilizada. Em sua grande maioria, estas cédulas de propaganda utilizam o modelo adotado pelo American Bank Notes para as cédulas do Brasil e de outros países para os quais produziu, com uma efígie da personalidade escolhida inserida em uma elipse ou moldura. Por isso, nessa seção não nos dedicaremos à análise das identidades visuais, bastante recorrentes, nem a aprofundar a análise ideológica das personagens ou partidos citados, em seu contexto histórico. Apenas demonstraremos como políticos e partidos de todas as tendências
se utilizaram desse recurso comunicacional, ao longo dos anos. Para quem desejar conhecer melhor esse período político da nossa história, sugerimos a leitura dos capítulos 15 a 18 do livro "Brasil: uma biografia", de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling,
O século XXI trouxe uma nova tendência para as cédulas de propaganda político-partidárias no Brasil. Historicamente utilizadas para contribuir com a imagem positiva do político, angariando votos para a sua candidatura, nos anos 2000 ela também passou a ser utilizada para manchar a imagem de opositores, influenciando negativamente a população contra determinada personalidade. É o que constatamos no exemplo acima, copiado da cédula de 100 reais, segunda família, que entrou em circulação a partir de 2010 (C-349 em diante). Neste caso, vemos a efígie do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva associada ao desenho de um presidiário, em uma cédula de 100 Pixulecos, sinônimo de “dinheiro roubado”, “dinheiro sujo”, alusão aos casos de corrupção que aconteceram durante o seu governo. Também foi vítima desse tipo de propaganda a ex-presidente Dilma Rousseff, mas de tal forma agressiva que preferimos não reproduzi-la aqui.
Esperamos ter contribuído para a divulgação e análise dessa modalidade numismática,
estimulando a elaboração de estudos mais aprofundados. Nossos agradecimentos à Cleder
Machado de Assis e Eugênio Passos, por suas colaborações para a elaboração deste texto. Todas as cédulas fazem parte do acervo pessoal do autor Goulart Gomes.
Matéria extraída do arquivo em PDF: As cédulas de Propagandas Brasileiras